quarta-feira, 30 de abril de 2008

ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO

"Fazer um resumo da história da Antropologia noSistema Educativo Português é um trabalho relativamente complexo entre outras coisas porque a Antropologia esconde, sob a mesma denominação, múltiplos sentidos. Desde a Antropologia Etnológica à Antropologia Colonial e à Antropologia Social e Cultural um longo caminho se percorreu (...) Pretendemos tão só percorrer num olhar rápido o lugar que a Antropologia tem tido na Educação ao longo do tempo, para depois nos determos mais demoradamente no questionamento do papel que a Antropologia e os Antropólogos têm e podem vir a ter no Ensino Básico e Secundário em Portugal a partir da última reforma educativa.
(...)Hoje os licenciados em Antropologia perten­cem ao Grupo 11º A e são classificados como tendo apenas habilitações suficientes. Neste grupo estão também os licenciados em Geografia classificados como tendo habilitações próprias. A disciplina frequentemente alocada aos licenciados em Antropologia é a de Geografia (7º, 9º 10ª e 11º anos). Entretanto, a disciplina de Antropologia Cultural desapareceu com a nova reforma curricular, tendo deixado de ser leccionada em 1993/94 quando aquela foi implementada no 10º ano de escolaridade.

Assim, aparentemente o uso social da Antropologia no Ensino Básico e Secundário surge como que condenado, a disciplina desaparece e os licenciados em Antropologia são empurrados para fora do Sistema Educativo pela impossibilidade de profissionalização. Podemos, no entanto, dizer que o uso social da Antropologia no Sistema Educativo transcende a existência ou não da disciplina de Antropologia e a possibilidade ou não de emprego para os licenciados em Antropologia. De facto, parece-nos que as perspectivas antropológicas enquadram o sistema educativo que emergiu da última reforma e enquadraram a própria reforma, parecendo assim evidenciar-se que a Antropologia tem um uso social na Educação formal em Portugal ao mesmo tempo que esta exclui os Antropólogos. É este paradoxo que nos propomos analisar de seguida.
(...)Esta abertura antropológica da escola ao nível das intenções pode ser vista no novo sistema de gestão e organização das escolas, nas novas figuras educativas inventadas pela reforma tais como o Projecto Educativo ou a Área-Escola ou ainda as Actividades de Complemento Curricular e finalmente na própria reforma curricular, quer pelos novos cursos e disciplinas que surgiram quer na restruturação curricular das já existentes.(...) Da nossa leitura do ensino básico e secundário em Portugal, o antropólogo poderia ser inserido de duas formas no campo escolar actual: 1. como professor, licenciado em Antropologia e 2. como Antropólogo de escola.
1-A Reforma Curricular e o lugar do licenciado em Antropologia
(...)Quanto às novas disciplinas, utilizemos como exemplos dois casos muito diferentes entre si: o caso da disciplina de Ciências Sociais e Formação Cívica da formação geral do 3º ciclo do ensino recorrente, e o caso de Desenvolvi­mento Pessoal e Social do Ensino Básico e Secundário. Ciências Sociais e Formação Cívica é uma daquelas disciplinas – como as de Comunicação e Animação Social ou Homem e Ambiente – Componente Social – que, pela sua abrangência e pelo objectivo que implica de formação para a cidadania, poderia certamente ser leccionada com vantagem por parte de quem tem uma formação antropológica. A ausência de um grupo disciplinar de Antropo­logia, assim como o facto dos antropólogos não terem habilitações próprias para a leccionação, impossibilita a inscrição de determinadas perspectivas formativas em disciplinas que, de uma forma evidente, as requereriam. Uma disciplina de carácter transdisciplinar, relativa ao mundo contemporâneo teria talvez vanta­gens em ser leccionada por licenciados em Antropologia ao invés de o ser por licenciados em História ou Geografia. Em relação à disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social trata-se de responder através dela a um dos objectivos prioritários da educação do 1º ao 12º ano: educar a pessoa e o cidadão, complementando assim a dimensão de instrução com uma necessária dimensão de socialização e uma dimensão de personalização. (...) Terem habilitações próprias para a leccionação, impossibilita a inscrição de determinadas perspectivas formativas em disciplinas que, de uma forma evidente, as requereriam. Uma disciplina de carácter transdisciplinar, relativa ao mundo contemporâneo teria talvez vanta­gens em ser leccionada por licenciados em Antropologia ao invés de o ser por licenciados em História ou Geografia. Em relação à disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social trata-se de responder através dela a um dos objectivos prioritários da educação do 1º ao 12º ano: educar a pessoa e o cidadão, complementando assim a dimensão de instrução com uma necessária dimensão de socialização e uma dimensão de personalização.
2-As novas figuras educativas: o lugar do Antropólogo de escola
Para além da reforma curricular e, talvez, mais importante que essa reforma, foi a criação de novas figuras educativas. As novas figuras educativas que consideramos são, primeiro que tudo, o Projecto Educativo da escola, em segun­do lugar a figura da Área-Escola e, finalmente, a figura das Actividades de Complemento Curricular. Estas duas últimas figuras, uma curricular não disciplinar e a outra não-curricular devem articular-se com as áreas curriculares disciplinares e encontrar uma harmonização coerente no Projecto Educativo de cada escola.
(...) As actividades de extensão educativa (art.º 5º) incluem: a) promover e apoiar actividades de educação de adultos; b) participar em actividades de aperfeiçoamento profissional; c) criar condi­ções para a valorização das artes e dos ofícios tradicionais. Quanto às actividades de difusão cultural (art.º 6º), incluem: a) promover exposições, conferências, debates e seminários; b) promover realizações e iniciativas de apoio aos valores culturais locais, participando na defesa do património local; c)incrementar a divulgação do artesanato e o intercâmbio de outras manifestações culturais; d)promover actividades de animação musical e de expressão artística. Quanto às actividades de animação sócio-educativa (art.º 7º) incluem: a) promover encontros entre gerações com características diferentes; b) apoiar actividades organizadas por grupos de jovens; c) facilitar a integração de imigrantes, d) colaborar em iniciativas de solidariedade social.
(...) Como se cria então uma cultura de escola e uma cultura de Comunidade Edu­cativa sem uma gestão específica de interacção cultural que encontra na escola um palco privilegiado? Procura-se cada vez mais ter um Psicólogo nas escolas, o que é de todo correcto. Mas serão mais importantes as patologias do que as utopias?
Não deverá haver também um lugar para os que, procurando dar à autonomia cultural da escola o seu verdadeiro espírito legislativo, criem verdadeiras Comunidades Educativas no diálogo das diferentes culturas que estas incluem e na procura de uma intervenção que tenha verdadeiro valor? Não terá aqui o Antropólogo um lugar como inter­mediário que procura “encontar dispositivos mediadores entre o saber cultural e o saber escolar: dispositivos que visam, acima de tudo, promover entre educadores e comunidades de origem dos alunos uma atitude não etnocêntrica face aos saberes que em ambos se transmitem/ adquirem.”? (Iturra, 1996:7)
O 2º artigo do Plano de Concretização, pela descrição das finalidades da Área-Escola, envia-nos já para esse carácter de abertura antropológica tal como a definimos. Assim, a Área-Escola deve, antes de mais, ser o locus de integração de saberes, no sentido de uma interdisciplinaridade activa (al. a) que englobe os contributos das principais revoluções edu­cacionais deste século, a saber, a Educação Permanente (al. b), a Educação comunitária (al. c & d) e a educação pela “escola paralela” (al. e)). Para além disso, o legislador aponta-nos uma necessária intercessão teórico-prática (al. f) e ainda um pendor quer para a formação para a pessoa (al. g)), quer para a formação social ou cívica (al. h & i)).
(...) Esta figura legislativa centrada numa pedagogia de e pelo projecto tem, como conse­quência disso, um cariz estratégico e de negociação propondo a Área-Escola como o lugar de uma transformação pessoal, de uma mudança institucional e até de mudança da própria comunidade envolvente. Este novo locus educativo implica uma auto-formação, uma formação participada e uma formação em cooperação com outras instituições da comu­nidade educativa numa perspectiva de formação-acção e de formação-investigação. A Área-Escola surge assim como uma espécie de figura utópica de uma escola do futuro, com um currículo liberto do constrangimento disciplinar e com um processo de ensino-aprendizagem liberto do constrangimento da sala de aula e da comunicação linear professor aluno. A abertura antropológica que esta figura possibilitava constituía-se como uma grande oportunidade educativa. No entanto, este espírito de abertura antro­pológica da educação que se pode ler nesta figura educativa sofreu diversas resistências: a Área-Escola foi assim acomodada aos constrangi­mentos diversos da nossa cultura educativa tradicional ao invés de ser o lugar da inovação que se impunha assimilar. A Área-Escola foi muitas vezes acomodada como mais uma directiva ministerial a cumprir, sendo a auto­nomia e a inovação, assim como a pedagogia de projecto folclorizadas nos seus princípios.
Perguntamo-nos: não faltou aqui a figura de um facilitador, um orientador, um coordenador que tivesse a incumbência de, gerindo as diversas culturas educativas da escola e da comunidade, criar um verdadeiro espaço de diálogo cultural entre professores e alunos, entre conteúdos e áreas disciplinares, entre a escola e a comunidade para a existência da Área-Escola com real valor?
Uma outra nova figura é a das actividades de complemento curricular, regulamentadas pelo desp. nº141/ME/1990 de 1 de Setembro. Estas actividades – derivando na prática na constituição dos chamados “clubes” – definem-se como “um conjunto de actividades não curriculares que se desenvolvem, predominan­temente, para além do tempo lectivo dos alunos e que são de frequência facultativa” (art.º 1º).
(...) O desp. 141/ME/90 afirma de uma forma indubitável “o papel da escola como pólo privilegiado de desenvolvimento local, como espaço aberto e de integração com a comunidade envolvente”. As actividades de complemento curricular devem constituir-se, assim, “como uma das expressões mais ricas da autonomia cultural da escola, manifestada designadamente no reconhecimento e promoção dos valores e patrimónios culturais da região, no encontro das gerações e na integração social e comunitária de todos os indivíduos.” Os projectos de cada grupo devem constituir um todo integrado num “programa”, harmonizando-se com as actividades curriculares e com a Área-Escola, enfim com todo o Projecto Educativo da escola e com a comunidade envolvente.
Mais uma vez podemos perguntar-nos: não se trata aqui de gerir culturas, não se trata aqui de coordenar uma diversidade de projectos culturais e de os incluir em projectos socioculturais mais amplos? E quem numa escola se encontra adstrito a tal função? Não será este um lugar adequado a um antropólogo de escola?
Prospectivas

Que o licenciado em antropologia venha a ter um lugar de professor cujas perspectivas antropológicas em que foi formado se eviden­ciem, que venha a ter um lugar de antropólogo de escola ou ainda, que seja interventor nos TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária) como propõe Iturra (1996), o importante é que a Antropologia se encontre com o Ensino e este na sua abertura antropológica, encontre lugar para os antropólogos.
Mas, mais do que promover a criação de um novo cargo no estabelecimento de ensino, o que nos importa aqui é promover uma reflexão sobre o papel da Antropologia na nossa sociedade, da sua responsabilidade social como instrumento de consciencialização de cidadanias. A análise apresentada de determinados aspectos ligados à Reforma Educativa é unicamente um estudo de caso através do qual se pretendeu iluminar uma das várias vertentes desta reflexibilidade que a Antropologia, e os antro­pólogos, com urgência, devem fazer. "
in Santos, Paula Mota e Seixas, Paulo Castro, "A Antropologia na Educação: Abertura Antropológica sem Antropólogos", Universidade Fernando Pessoa

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O NOSSO DESAFIO










Agora que foi divulgado o "tal" vídeo no YouTube do liceu Carolina Michaélis, os media acordaram para uma realidade que podemos encontrar em várias escolas no nosso país, estando elas inseridas nos mais diversos contextos sociais.

Muito se têm argumentado, foram atribuídos diversos bodes expiatórios, fala-se da falta de educação das nossas crianças, culpa dos pais, dos professores, enfim! Assumem-se falhas, procuram-se caminhos?

O certo é que somos todos educadores. A chamada Sociedade Civil.
Há quem refira que é importante que depois de 30 anos de democracia, seja urgente entender que o ensino público É OBRIGATÓRIO a todas as crianças, sejam elas filhas de pais e excelentes pedagogos, ou não. A isso obriga a
Convenção dos Direitos da Criança, documento signatado pelo Estado português e que todos temos o dever de fazer cumprir.

Um dia tive a feliz "coincidência" de ver um "
Ophra Show" dedicado aos desafios que a escola americana enfrenta, nomeadamente as preocupações relacionadas com o uso e abuso de armas no recinto escolar, a problemática do bullying etc. Foi aí que tive a a felicidade de conhecer o "Challenge Day". Quando vi, fez logo eco no meu ser. Que bom é saber que estas actividades são o dia a dia de muitos grupos de jovens em todo mundo. O "Challenge Day" porpociona aos jovens e sua comunidade, actividades e programas que demonstram a possibilidade do Amor e da partilha através da celebração da diversidade, verdade e da expressão profunda dos nossos sentimentos. Não percam a oportunidade de conhecer este desafio na sua página Web.

Sermos amados, sermos ouvidos, sermos perdoados e perdoar. Sentir que não estamos sós, que há outros iguais com os mesmos medos e o mesmos desejos. É o que nos dá a liberdade, nos faz sentir que somos importantes, faz-nos sentir que somos os heróis da nossa vida!

Este é o desafio que deixo a todos nós! Este é o caminho que trilho para contribuir de forma positiva para um desenvolvimento sustentado das crianças, das famílias e das escolas que as acarinham e acompanham, do nosso país e por último para que o nosso planeta seja um sítio lindo e maravilhoso. Imagine all the people...

P.S- já agora, quando das minhas deambulações pela net para encontrar material e espaço necessário na nossa comunidade para implementar um projecto educacional semelhante ao Challenge Day, encontrei o trabalho a meu vêr magnífico e surprendente da professora Helena Àgueda Marujo, a qual aproveito aqui para felicitar e também divulgar. OBRIGADA